Um caminho recorrente que costumamos adotar é considerar o mundo inteiro a partir de nossas próprias experiências e possibilidades. Não é maldade. Simplesmente aprendemos a desconsiderar os outros porque, ora, não somos os outros e, por isso, não somos estimulados a pensar em situações em que poderíamos observar a realidade das outras pessoas com mais cuidado e consideração.
Desde pequenos as pessoas nos dizem: “cuide da sua vida”, “faça o que é melhor para você”, “deixe de se meter na vida alheia” e coisas do tipo. Não sou a favor da tese, largamente aceita de que o egoísmo é sempre algo nefasto, mas cuidar dos próprios interesses não é algo que precisa excluir a atenção e consciência da alteridade.
Quando consideramos que outras pessoas fazem sempre as suas escolhas de forma consciente e deliberada, é porque cremos que a vida de cada pessoa é como um quadro em branco preenchido da mesma forma, na mesma ordem, com as mesmas ferramentas. Mas não é bem assim. A diversidade que existe na vida humana não é apenas uma diversidade de escolhas, mas também de oportunidades. Não sei se seria bom viver em um mundo em que todos tivessem as mesmas chances de realizar e escolher o tipo de vida que possuem, mas sendo um fato que esse mundo é inviável, faria muita diferença deixarmos de sonhar com um mundo em que só existimos sozinhos.