Sempre o mesmo

Os biógrafos contam que o filósofo austríaco Wittgenstein (1889–1951) era indiferente ao que iria comer, desde que fosse sempre a mesma coisa. Esse amor pela rotina, pela mesmice, pode soar um tanto estranho, mas é que os hábitos nos dão uma sensação de segurança difícil de recusar.

Quando sabemos o que vamos fazer e podemos controlar minimamente a sequência das coisas que nos ocorrem, acreditamos — ainda que sem fundamento algum — que o inesperado está distante de nós. Mas o acaso é traiçoeiro e todos os dias alguém descobre como a rotina é uma barreira fácil de ser ultrapassada.

De qualquer forma, o que se aprecia na rotina muda de pessoa para pessoa. Somos diferentes e por isso nosso caráter e nosso olhar são atraídos por prazeres distintos. O trabalho do professor, por exemplo, é baseado na rotina e na repetição de determinadas tarefas e ações. Mas o mesmo Wittgenstein que não se importava em comer pão com queijo o tempo todo (por muito tempo, as refeições dele foram exatamente isso), desistiu da carreira de professor em Cambridge porque considerava a cátedra de filosofia como uma posição absurda e a docência como “uma forma de ser enterrado vivo” (citado por WEISCHEDEL, Wilhelm. A Escada dos Fundos da Filosofia. São Paulo: Editora Angra, 2006, p.328).

A rotina não mata ninguém mas é, sem dúvida alguma, uma prisão voluntária, ainda que necessária. Afinal, quantos de nós conseguiriam sair do usual, vivendo algo diferente todos os dias, tendo de suportar a aleatoriedade da existência? Eu não daria conta.

Ilustração de Natalie Adkins