Pagar para publicar

Hoje vi que a Physis: Revista de Saúde Coletiva, da UERJ, vai começar a cobrar R$ 800,00 para publicar artigos aprovados. Não é necessário gastar nada para a submissão, mas os artigos efetivamente aceitos só serão publicados com o pagamento da taxa.

Esse é um modelo comum em muitas Revistas acadêmicas de prestígio no exterior (na Inglaterra, Alemanha, EUA etc.), assim como é comum por lá o acesso restrito aos materiais de produção acadêmica: revistas, bases de dados, bancos de teses e dissertações das Universidades etc. Uma das piores coisas que poderia acontecer com a ciência no Brasil, ainda tão restrita, tão limitada, é vermos a diminuição do escopo de pesquisadores que podem publicar em uma revista acadêmica. Não basta estar cursando Mestrado ou Doutorado, o que já é para pouca gente, mas é preciso possuir quase mil reais para despender apenas nessa publicação. Imagine o impacto que isso pode ter.

Quando eu estava no Doutorado, participei de um congresso e depois recebi um email de uma revista estrangeira, me convidando para publicar o artigo. Depois da alegria que senti por ter recebido o convite, me dei conta de que a taxa para a publicação era de US$ 300,00. Impossível para mim. Mais ainda: eventuais leitores teriam que pagar para ler o meu artigo naquela revista, o que diminuiria drasticamente o alcance dessa produção. É justamente isso, além da experiência de poder morar fora por algum tempo, que motiva muitos pesquisadores brasileiros a fazer Mestrado, Doutorado ou Pós-Doc no exterior. Matriculado em uma Universidade específica você consegue acesso às bases de dados da produção daquela instituição. E sim, isso faz muita diferença.

Como disse antes, o Brasil tem hoje a vantagem de possuir uma produção acadêmica livre para acesso em sistemas open-source, com bases de dados fáceis de buscar e com possibilidade de publicação para grande parte da comunidade acadêmica. Perder isso é enveredar por um caminho em que o desenvolvimento científico se torne cada vez mais improvável. Mas esse modelo não funciona no exterior? Sim, e o Brasil é diferente o suficiente deles para que ele não funcione aqui. No momento, só cabe observar e torcer para esta iniciativa isolada não se torne uma regra.

Marcos Ramon

Professor no Instituto Federal de Brasília, pesquisando ensino, estética e cibercultura. Lattes | ORCID | Arquivo

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