O que ainda falta

Esses dias, minha esposa começou a fazer uma conta de quantos anos faltam pra gente chegar aos 60. Fiquei impressionado que falta tão pouco.

Sempre me senti como se tivesse mais idade do que realmente tenho e, por isso, esse tipo de constatação me assusta.

Envelhecer é algo que me angustia pela inevitabilidade de tudo. Do passado, que começo a esquecer; do presente, que passo a viver com mais urgência; e do futuro, que, se antes podia ser inesperado e interessante, agora é urgente e amedrontador.

Das coisas que sinto como mais características do fato de estar envelhecendo, acho que a mais evidente é o exagero no cuidado com a saúde, coisa que nunca tive antes. Mas agora tento me dedicar aos exercícios, que nunca foram meu hábito, e me preocupo com a quantidade de açúcar que devo ou não consumir.

Apesar do medo, acho que vale muito pensar sobre isso para internalizar o evidente: não posso resgatar o tempo. Porque o tempo me ultrapassa e me faz estar em constante perseguição — não a ele, mas a mim mesmo, perdido no processo de continuar existindo.

É isso. Falta cada vez menos tempo. O que importa agora é aprender a lidar com ele, comigo, com tudo. Le Port au soleil couchant (1892), por Paul Signac