O cotidiano da sala de aula

Trabalho com educação desde 2014, quando me formei na Licenciatura em Filosofia da Universidade Federal do Maranhão. Na verdade, desde o último ano de curso eu já vinha tendo experiências com o ensino por conta de um estágio remunerado que consegui em um projeto de cursinho pré-vestibular gerenciado pelo Governo do Estado e por trabalhos em pequenas escolas e cursinhos particulares. De lá pra cá, tenho vivido uma situação conflitante que é perceber que o melhor da docência se encontra justamente no seu aspecto mais difícil: a sala de aula.

Não tenho nem um dado concreto sobre isso, mas imagino que se fizéssemos uma pesquisa íamos descobrir que 9 entre cada 10 docentes desgostam principalmente da parte burocrática do trabalho na escola1. Esses mesmos, no entanto, também apontariam que a parte mais cansativa (ainda que recompensadora em outro sentido) é a sala de aula. E é esse o conflito a que me refiro.

Estar em sala de aula é bom porque você consegue perceber o desenvolvimento dos estudantes, a ampliação de suas perspectivas de mundo, o impacto positivo que o conhecimento e o desenvolvimento humano podem fazer. Mas é, ao mesmo tempo, difícil porque é desgastante, exige disposição física e mental em um nível extremo e te coloca sempre em confronto com a sua profissão. Não é docente quem vez ou outra não sai de uma aula pensando: “será que eu devia mesmo estar fazendo isso?”.

A vida é sempre um misto de conquistas e decepções. E, na maior parte do tempo, conseguimos montar um mapa mental que faz a clara separação entre aquilo que é bom e as coisas que precisam ser evitadas porque nos trazem sentimentos ruins. A docência é as duas coisas ao mesmo tempo. Amar a sala de aula implica em também se desesperar com ela. Não acredite em ninguém que diga o contrário.

Arte de Reem Twaim
  1. Esse trabalho, tão cotidiano quanto a própria sala de aula, envolve planejamento, elaboração e correção de atividades, preenchimento de documentos (planos de ensino, planos de aula, mapas de nota, diários de sala de aula, relatórios de conselho de classe etc.), mas desconsidera atividades de pesquisa e extensão, que muitas vezes também são realizadas, mesmo com pouco tempo ou apoio da comunidade escolar. 

Marcos Ramon

Professor no Instituto Federal de Brasília, pesquisando ensino, estética e cibercultura. Lattes | ORCID | Arquivo

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