O amante do coentro

Eu gosto de observar as pessoas. Aliás, acho que isso é uma coisa que quase todo mundo gosta. Alguns disfarçam mais, outros são inconvenientes. Eu tento ficar na minha, observando de longe, acompanhando gestos, trejeitos, pegando trechos de conversas. Curiosidade humana, só.

Mas hoje vi uma coisa estranha. Estava no supermercado e, na sessão das folhas, encontrei um cara obcecado por coentro. Não só por coentro, aparentemente, mas quando vi ele num primeiro momento ele estava escolhendo coentro — que era exatamente o que eu queria pegar — e eu tive dificuldade de escolher um pra levar porque esse cara, sério, esse cara analisou cada um dos coentros disponíveis. Tirou todos do lugar, foi cheirando um por um (e por isso, eu corri pra pegar logo um que parecia saudável antes dele encostar o nariz nas folhas) e até provou umas folhinhas antes de decidir quais levar.

Quando ele escolheu — e foram só dois maços — eu já estava nas laranjas, mas sem conseguir tirar os olhos daquele espetáculo curioso e grotesco. Quando cheguei em casa comentei com a minha esposa dizendo que o cara devia ser chef de cozinha. Mas ela disse que se ele tivesse restaurante não compraria no supermercado e sim em alguma feira em que pudesse comprar maior quantidade por um preço menor. É verdade. Nossa conclusão: era só um hipster.