Na nossa própria cabeça estamos sempre do lado do bem, defendendo a verdade, a justiça e tudo aquilo que é certo. Todo mundo, tenho quase certeza, se sente meio herói ou heroína; e, se algum vacilo acontece e sentimos que agimos mal, encontramos logo uma justificativa do tipo: “era necessário”, “não tinha outro jeito” etc.
O contraditório disso é não aceitarmos que os outros pensem o mesmo, se vangloriando também por acertar e errar com motivo e propriedade. Não digo com isso que não exista quem se sinta inferior ou que ninguém tenha arrependimento verdadeiro. Isso existe, óbvio. Mas até nisso existe um pouco de vaidade, porque somos assim, olhamos o mundo a partir do nosso ponto de vista e mudar de perspectiva é bem mais difícil do que parece.
Ninguém conseguiria contar de si realmente tudo o que viveu, porque não dá pra ser isento quando mexemos com nossos interesses, sentimentos e mágoas. Mas isso também não devia ser um problema. Já é muito conseguir viver sem surtar a cada instante. No meio de tanta loucura que existe na vida, mentir pra si é talvez a coisa menos importante.
Fotografia de Arianna Pagani