Noite
A escrita simples tem uma beleza difícil de desfazer. Eu me sinto atraído principalmente pelos textos escritos de forma direta, com palavras às vezes óbvias, mas todas colocadas no lugar certo. Ler um texto assim é como resolver um quebra cabeça que parece difícil, mas que tem uma solução quase evidente. Existe elegância e encanto na simplicidade.
Hoje comecei a ler o livro “A Filha Perdida”, de Elena Ferrante. De repente, comecei a ver nos últimos dias muita gente indicando essa autora, que, é importante dizer, eu nunca tinha ouvido falar antes. Lendo textos de outras pessoas sobre ela, fiquei sabendo do mistério em torno da biografia da autora e também da crueza e sutileza de seus livros. Escolhi “A Filha Perdida” meio sem motivo e, como li muito pouco até agora, não tenho muito o que falar sobre o livro, com exceção do que já disse, das palavras certas e do jeito de escrever que se aproxima de uma conversa boa de ouvir.
Cada um encontra o que quer — ou o que pode — nos livros que lê. Isso tem a ver, acredito, com a nossa história e com as nossas experiências, algumas conscientes, outras nem tanto. Por exemplo, lendo o livro, logo no comecinho, encontrei essa passagem:
Nunca se deve chegar à noite em um lugar desconhecido: tudo é indefinido, todas as coisas dão uma impressão negativa — Elena Ferrante, A Filha Perdida.
Nunca pensei sobre isso, mas lendo essa passagem fiquei tentando lembrar das minhas viagens ou das vezes em que me mudei para um lugar novo. Como foi a minha chegada? Era noite? Como eu me senti, e como percebi o lugar? E pronto, a magia estava feita. Um bom livro é assim, te faz pensar sobre a sua vida, te faz entender os personagens enquanto você entende um pouco de si. E isso, pode ter certeza, já é muita coisa.
Marcos Ramon
Professor no Instituto Federal de Brasília, pesquisando ensino, estética e cibercultura. Lattes | ORCID | ArquivoRelacionados
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