Espaços para respirar

Recentemente li e recomendei um texto que falava sobre a nossa obsessão com os smartphones. Bem, de lá pra cá, acabei me deparando com outros textos que fazem conexões semelhantes. Ou estamos nos tornando monotemáticos por falta de novas experiências, ou esse realmente é um problema que cada vez mais e mais pessoas estão observando.

Colagem criada por Dan Cretu

Um desses textos que li foi Living Better In The Age Of Notifications em que a autora, Shreya Dalela, analisa o fato de estarmos cedendo muito do nosso tempo para notificações e distrações nas redes sociais e na internet como um todo. Em 2014, eu mesmo já tinha escrito algo similar em um texto intitulado Mantendo a sanidade em dia. No entanto, o meu comportamento mudou muito desde aquela época, exceto o fato de que passo cada vez mais tempo na internet, seja no PC ou no smartphone. Parte disso tem a ver com trabalho e demandas relacionadas, o que me fez lembrar também de um texto do Vladimir Campos: Será que estamos próximos de uma overdose de WhatsApp? Dependendo dos seus hábitos, a resposta para essa pergunta pode variar um pouco, mas me arrisco a dizer que a maioria das pessoas deve reconhecer que deveria utilizar o seu tempo de maneira mais eficiente. Eu, pelo menos, me sinto assim.

Outro texto que li recentemente, ainda que não falasse de forma direta sobre tecnologia, acabou me levando a conectar tudo o que mencionei até aqui. O texto, escrito por Helen De Cruz, se chama Passions of philosophers outside of philosophy. Aqui a autora fala sobre os seus hobbies e a relação destes com suas atividades profissionais. Ela trabalha no meio acadêmico e como, ela disse muito bem, nesse tipo de ambiente “ being good is not good enough” (ser bom não é bom o suficiente). Contudo, quando você tem um hobbie, esse tipo de pressão não existe ou não deveria existir. Afinal, se você se cobrar em uma atividade cotidiana da mesma maneira que se cobra ou é cobrado(a) nas suas atividades de trabalho, então é porque algo já deu errado demais! Enfim, achei importante essa ideia de que existem válvulas de escape e que podemos torná-las significativas nos doando e dedicando um pouco do que somos a essas tarefas.

Eu publico os meus textos na internet e faço podcasts por puro diletantismo, mas sei que o que eu faço chega em outras pessoas de diferentes maneiras, o que gera alguma expectativa sobre o que faço e como faço. Não quero, contudo, me tornar eu mesmo um produto das coisas que gosto de fazer. Vou continuar procurando espaços para respirar, mas quero respirar devagar e com calma. De tudo que eu fizer, algumas coisas eu vou compartilhar (como já faço) e outras eu quero guardar só pra mim (a maioria, na verdade). É verdade que privacidade e segredo são coisas cada vez mais raras nos dias de hoje, mas não serão por isso mesmo espaços de resistência?