Para mim, escrever é um processo de me conectar com quem eu sou, ao mesmo tempo em que faço um desligamento de tudo o que tem a ver comigo.
Como escreveu Elena Ferrante, falando sobre Virginia Woolf:
"O eu que escreve a sério são vinte pessoas (…). Quem escreve não tem nome" (Elena Ferrante, As margens e o ditado, p. 31).
Não sei dizer como isso funciona para mim, já que não tenho uma perspectiva séria de ser escritor ou viver do que escrevo de alguma forma. Muitas vezes, inclusive, pego um texto antigo para ler e penso: "Que bom que quase ninguém leu isso". O que me faz agradecer por não ter deixado impresso muitas coisas mundo afora.
Mas, ainda assim, continuo escrevendo. Vou preenchendo cadernos, escrevendo num blog que é quase invisível, enviando newsletters para algumas pessoas que ainda têm tempo para parar e ler com calma um texto desimportante sobre qualquer coisa.
Escrever é uma armadilha, porque vicia. Mas é um vício que me aumenta, me traduz e me ajuda a entender o que vivo. Então, acho que tenho justificativa para seguir nele.
Figure writing reflected in a Mirror, por Fancis Bacon