Recentemente o serviço de streaming de vídeos Netflix anunciou que vai mudar o jeito como os usuários classificam filmes e séries que assistem. A forma original era a classificação de 1 a 5 estrelas, o que gerava posteriormente uma classificação indicativa com a opinião de todos os usuários. Agora, contudo, no Netflix teremos apenas a opção de curtir ou descurtir.
O argumento utilizado, e defendido por muitos, é de que esse novo formato garante mais engajamento. E eles estão certos. É mais fácil alguém dedicar alguns segundos para curtir alguma coisa do que para pensar em uma classificação específica para aquele produto. Se o engajamento é o foco, então o Netflix efetivamente terá mais interação e participação dos usuários. Contudo, apesar de entender o ponto de vista deles como empresa, é difícil não me incomodar com o fato de que tudo se simplifica e modifica não pela possibilidade de criar serviços melhores, mas sim pela necessidade de fazer as pessoas ficarem mais tempo presas dentro de um ecossistema. Além disso, vejo como problema também o aspecto simbólico envolvido na representação. Curtir ou não curtir são coisas que se aplicam bem para um post no Facebook, mas será que elas conseguem expressar minimamente o que achamos de um filme ou uma série? Nós não gostamos de filmes completamente distintos do mesmo jeito e nem desgostamos com a mesma intensidade. Será que esse modelo não vai transformar o jeito como vemos esses filmes, modificando nossos parâmetros de comparação?
Pode parecer bobagem, mas acho que esses símbolos condicionam o nosso comportamento e também a nossa forma de perceber as coisas. Um exemplo: no final de 2015 o Twitter tirou as estrelas e as substituiu por corações. O argumento que justificava a mudança era o mesmo: a necessidade de mais engajamento.
No entanto, para mim, o efeito foi bem ruim. Eu sempre encarei as estrelas como uma forma de favoritar uma postagem. Assim, quando alguém postava um link interessante e eu pensava que queria guardar ele para verificar depois, eu marcava aquele tweet com uma estrela. Mas usar um coração para o mesmo fim é complicado. O coração simboliza que eu gostei daquilo, mas se ainda não vi aquele link específico, eu não vou marcá-lo com um coração. Logo, desde a mudança eu usei cada vez menos esse recurso da maneira como fazia antes.
O engajamento é uma moeda importante atualmente, mas o que estamos dispostos a sacrificar por esse tempo a mais de uso nas ferramentas de interação? O nosso jeito de entender as coisas, a nossa forma de refletir sobre elas? Talvez devêssemos ter mais cuidado com tudo isso.