Curiosidade

Para Platão, assim como para Aristóteles, o sentimento motivador da atitude filosófica era a admiração, o espanto diante da realidade e dos mistérios da vida. É porque somos curiosos, porque queremos saber, que começamos a perguntar. No entanto, por mais que sejamos insistentes e perspicazes, as perguntas serão sempre em maior número do que as respostas. E não tem como ser diferente. Como afirma Alberto Manguel em um livro chamado “Uma história natural da curiosidade”:

Logo descobrimos que essa curiosidade raramente é recompensada com respostas significativas ou satisfatórias, e sim com um desejo crescente de fazer mais perguntas e com o prazer de conversar com outras pessoas. Como sabe todo inquisidor, afirmações tendem a isolar; perguntas, a unir. (Alberto Manguel. Uma história natural da curiosidade. Kindle edition: pos.38)

E é também por isso que não devemos ver essa capacidade de multiplicar perguntas como um estorvo. Pode parecer um completo despropósito perguntar tanto para obter um punhado de respostas e um caminhão de novos questionamentos. Mas essas respostas, ainda que em menor número, invariavelmente se transformam em soluções para muitos de nossos problemas. Se todo cientista, filósofo ou investigador desistisse diante dos primeiros entraves às suas questões, não teríamos avançado nada.

A despeito da opinião de autores como Rousseau, que afirmava que o avanço do conhecimento gerava mais dor e sofrimento do que real bem-estar às pessoas, eu penso que a situação em que nos encontramos é invariavelmente melhor do que seria se não tivéssemos investido no caminho da ciência. E é justamente por isso que perceber parte sociedade negando o valor da curiosidade e da capacidade de fazer perguntas me parece tão perigoso. É preciso insistir no que disse Alberto Manguel: as perguntas nos unem. Um mundo baseado apenas em opiniões verdadeiras, sem o mínimo de questionamento, tende a ser um mundo de destruição, de nós mesmos e de tudo o mais que nos cerca. O caminho da curiosidade, por outro lado, me parece mais agradável, ainda que errático, misterioso e, justamente por isso, encantador.

The Goldfish Window (1916), por Frederick Childe Hassam

Marcos Ramon

Professor no Instituto Federal de Brasília, pesquisando ensino, estética e cibercultura. Lattes | ORCID | Arquivo

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