A solidão, a liberdade e a felicidade possível

Arthur Schopenhauer escreveu muito contra o desejo comum de sociabilidade. E se é bem verdade que ele era ranzinza e misantropo, é também verdade que sua análise contra o ímpeto da vida em comunidade parece extremamente razoável, e ainda mais em nossos dias.

O argumento, que ele desenvolve em diversos textos, mais principalmente nos Aforismos para a Sabedoria de Vida, se baseia no fato de que costumamos associar a nossa felicidade à dependência que temos dos outros. No entanto, o nosso bem-estar é uma consequência direta do que somos e é apenas indiretamente que importa o que representamos (aspecto que envolve a vida social) e o que temos. Como o próprio Schopenhauer afirma:

Cada um só pode ser ele mesmo, inteiramente, apenas pelo tempo em que estiver sozinho. Quem, portanto, não ama a solidão, também não ama a liberdade: apenas quando se está só é que se está livre. A coerção é a companheira inseparável de toda sociedade, que ainda exige sacrifícios tão mais difíceis quanto mais significativa for a própria individualidade. Dessa forma, cada um fugirá, suportará ou amará a solidão na proporção exata do valor de sua personalidade. Pois, na solidão, o indivíduo mesquinho sente toda a sua mesquinhez, o grande espírito, toda a sua grandeza; numa palavra: cada um sente o que é. (SCHOPENHAUER, Arthur. Aforismos para a Sabedoria de Vida. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p.161–162)

No episódio abaixo do meu podcast Ano Bissexto eu comento essa citação, corroborando com o estranho fato de perceber a solidão tão próxima da liberdade. E, sim, se existe uma felicidade possível, ela depende muito do isolamento e do desenvolvimento de nossa individualidade. O que me leva a entender que o egoísmo — entendido aqui como o cultivo de si mesmo — , não é um mal absoluto, mas uma condição para o bem viver.

Ano Bissexto #162 - A solidão, a liberdade e a felicidade possível
_A solidão, a liberdade e a felicidade possível. "Aforismos para a sabedoria de vida", de Arthur Schopenhauer.

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