Neste mês de Março de 2017, o metrô de Brasília promoveu várias ações relativas ao Dia Internacional da Mulher. Uma delas era uma exposição chamada 50 tons de si mesma. O projeto, idealizado pela modelo brasiliense Janaina Gracielle, apresenta fotos de modelos Plus Size do DF com frases sobre o universo feminino. Uma das frases era essa:
“A mulher é um efeito deslumbrante da natureza” (Arthur Schopenhauer)
Colocada fora de contexto, a frase parece adequada ao propósito da campanha. Mas Schopenhauer, um misógino dos mais exagerados, escreveu isso defendendo a ideia de que as mulheres possuem uma natureza interesseira e dissimulada. O que ele queria dizer, portanto, é que as mulheres são deslumbrantes porque possuem o dom de manipular os homens, sempre tendo em vista o conforto e os bens materiais. Nos dois textos em que trata mais diretamente das mulheres (“Metafísica do Amor” e “As mulheres”, partes da obra “Parerga e Paralipomena”), Schopenhauer destila sua raiva e preconceito contra a feminilidade, sendo um dos autores menos recomendados para ilustrar uma campanha que fala de autoestima e valorização das mulheres.
Pode parecer pouco relevante tudo isso, já que a maior parte das pessoas que viu a campanha nunca leu Schopenhauer e não tem o menor interesse em saber qual era o propósito original da frase que ilustra a foto acima. No entanto, se foram utilizadas frases e não apenas imagens, é porque os criadores da ação entenderam que era preciso aliar conceitos às fotografias, o que, nesse caso, se mostrou uma depreciação do próprio projeto. Talvez uma breve pesquisa no Google já mostrasse que Schopenhauer era, além de um grande escritor e filósofo de ideias refinadas, um homem típico de seu tempo, defensor de ideias que hoje são rechaçadas e precisam ser questionadas. Usar textos célebres é interessante, mas o contexto em que eles foram criados também importa, e muito.