Temos direito ao sonho?

Estava no metrô vindo pro trabalho e ouvi três caras próximos a mim conversando todo tipo de barbaridades, coisas impronunciáveis que não quero fazer você ler.

Mas a naturalidade com que falavam era o que mais assustava. Será que eles não perceberam que as pessoas ao lado, naquele metrô apertado, iriam ouvir aquela conversa? Ou então é pior: talvez eles não achassem que aquelas opiniões grotescas e desumanas eram absurdas, como eu senti que eram.

Ouvindo aquilo fiquei pensando se faz sentido a gente sonhar com um futuro melhor. Muita gente tem sonhado com um dia em que as pessoas serão mais conscientes em relação à vida em comunidade (Platão), serão politicamente mais esclarecidas (Kant) e terão mais compaixão pela humanidade (Schopenhauer). Mas essa aposta no futuro ainda não se concretizou.

Mas sabe o que é pior? Refletindo agora sobre tudo o que ouvi no metrô eu percebo que nem consigo me sentir melhor do que aqueles caras. Eles são apenas humanos, como eu e você; e eu posso não ter os mesmos defeitos que eles, mas tenho outros (talvez piores, quem sabe).

Vou dormir hoje pensando nisso: vale a pena insistir em sonhar ou a realidade é só o que temos e pronto?

Pintura de John Wentz

Marcos Ramon

Professor no Instituto Federal de Brasília, pesquisando ensino, estética e cibercultura. Lattes | ORCID | Arquivo

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