Quem pode mudar o mundo?

Nada na vida é realmente definitivo. Desde as coisas mais simples até as coisas quase impossíveis, boa parte do que ocorre conosco poderia ser diferente. Mais do que isso, podemos transformar aquilo que já aconteceu, dando novos rumos para a nossa história, deixando a vida em movimento permanente.

É disso, aliás, que falava Nietzsche, ao defender que a condição inerente à vida é o devir. É fácil nos desesperarmos diante de situações que parecem exigir de nós muito mais do que apenas paciência e disposição; é comum desistirmos antes mesmo da luta começar por duvidarmos da possibilidade de uma mudança que seja, de fato, significativa.

Ainda assim, penso que isso ocorre muito mais por um hábito do que por uma circunstância efetiva da existência. Somos confrontados com problemas desde cedo e, se não nos frustrássemos tantas vezes, talvez continuássemos acreditando que cada coisa acontece apenas eventualmente e que depois tudo pode ser diferente. Mas, como disse antes, a frustração é mais comum do que parece. E com ela vem o receio de tudo dar errado de novo, o medo de tentar aquilo que já parece impossível, a percepção de que o fracasso está mais próximo do que o sucesso. Nos falta, provavelmente, o entendimento de que, assim como a maior parte das relações sociais, os problemas enfrentados por cada um de nós são artificiais.

Nós inventamos os problemas — ou nos deixamos comandar por eles — e depois fingimos para nós mesmos que esses empecilhos são uma condição inerente à vida, que não existe possibilidade de continuar vivendo sem ultrapassar essas barreiras. Mas existe vida depois do fracasso, existe caminho para percorrer depois da decepção. No entanto, se fosse tão simples assim, todos estaríamos de bem cada um consigo, o que, efetivamente, não ocorre. E por que não? Porque é mais fácil viver um tipo de vida inventada, planejada para dar certo dentro de determinados limites. Assim nos guiamos por caminhos que não são escolhidos por nós, mas para nós. Todos nós podemos mudar o mundo, mas ninguém quer realmente fazer isso.

Sair do conforto e da facilidade daquilo que já está estabelecido? Será que vale a pena? Você sabe a resposta que a maioria das pessoas (incluindo eu e você) dá a essa questão: não, não vale o risco. Vamos continuar como estamos.

Gif criado por Eiko Ojala

Marcos Ramon

Professor no Instituto Federal de Brasília, pesquisando ensino, estética e cibercultura. Lattes | ORCID | Arquivo

Relacionados