Marcos Ramon

Estamos perdidos


No dia 13 de Maio, a OpenAI anunciou o ChatGPT-4o, uma nova versão mais rápida, mais potente e gratuita de seu principal produto de IA generativa. De um lado, esse lançamento causou confusão sobre a estratégia da empresa, já que o ChatGPT-4 continua pago, mas a versão mais potente que chega agora está liberada gratuitamente para qualquer pessoa, inclusive com acesso aos GPTs, anexo de arquivos e outras funcionalidades que só eram possíveis para quem assinava o serviço. Por que, então, manter uma assinatura? O principal motivo seria a quantidade de requisições e prioridade no uso da ferramenta, mas, sinceramente, isso é algo que agora só faz sentido para entusiastas e hard users, o que exclui a maioria de nós.

Mas certamente o anúncio mais impactante foi a nova versão do assistente de voz do ChatGPT, que será disponibilizado para assinantes nas próximas semanas. No vídeo de divulgação, vemos os desenvolvedores conversando com o ChatGPT através de um app no smartphone. A voz, claramente emulada da voz de Scarlett Johansson, responde atentamente, mas faz mais do que isso: suspira, muda a entonação, se alegra e interage de maneira natural com as pessoas. Não é bacana, é assustador.

Por mais que o vídeo tenha sido feito em um ambiente controlado e que o resultado final para os usuários não seja tão fluido assim, foi possível perceber pela apresentação o que a OpenAI está propondo: mais do que um assistente, o que se busca é uma ferramenta que possa se passar efetivamente por um ser humano.

O fato de Sam Altman, CEO da OpenAI, ter feito uma menção direta (e nada criativa) ao filme “Her”, me deixou intrigado. Afinal, a mensagem do filme não é nada positiva em relação ao destino da humanidade quando esta avança no desenvolvimento da inteligência artificial. Então, qual é o recado que essa empresa quer passar? Só consigo pensar em uma coisa: Estamos perdidos.

Desde o final de 2022 que tenho me interessado pelo tema da inteligência artificial generativa. Mas sinto agora, e cada vez mais, que fui pego pelo hype e enganado com as perspectivas do impacto que essas ferramentas podem ter em nossas vidas. A OpenAI, o Google, a Microsoft e a Meta estão usando a IA para controlar o tráfego da web, organizar o conteúdo que gira em torno de nós e direcionar nossa forma de usar a internet. Para alcançar esse resultado, elas não têm escrúpulos em utilizar dados com direitos autorais, alterar termos de uso e fazer vista grossa para práticas antiéticas.

Era óbvio. Sempre foi. Eu não vi porque não quis.

Imagem criada com o Midjourney. Prompt: "surreal photography, a smartphone talking, as someone who is helping someone else, AI, 4k --ar 4:5 --style raw"

Marcos Ramon

Marcos Ramon

Professor no Instituto Federal de Brasília, pesquisando ensino, estética e cibercultura. Lattes | ORCID | Arquivo
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Marcos Ramon / Professor de Filosofia, pesquisando estética e cibercultura.

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