Marcos Ramon

Apostila Filosofia 3º ano (parte 1)


Olá, tudo bem? Nesse roteiro você vai encontrar os conteúdos de Filosofia trabalhados no 1º Bimestre (2020) para o estudantes do 3º ano do Curso Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio (IFB). Agora, se você não é desse curso, mas tiver interesse no assunto, pode ler também, viu? Não se acanhe não. Para facilitar o acesso, utilize o índice abaixo:

Apresentação

Antes de entrar no assunto, vou me apresentar para você:

Certo, agora vamos ao trabalho! O conteúdo de Filosofia no 3º ano aborda, nesse primeiro momento, a Ética. Essa é a área da Filosofia que aborda questões ligadas aos valores e ao campo específico da ação. Mas uma coisa importante para dizer desde já é que o estudo da ética, por si só, não torna ninguém ético. Afinal, se fosse assim, muitos problemas nossos seriam facilmente resolvidos. Colocaríamos as pessoas que praticam crimes, por exemplo, em uma sala de aula, ofertaríamos um curso de ética de 40h e pronto. Tudo resolvido. Mas, como eu disse antes, não é bem assim.

Então, talvez você esteja se perguntando, porque cargas d’água devemos estudar ética. Principalmente para refletirmos sobre o sentido e as consequências das nossas ações. Eu sei que pode parecer pouco; mas, acredite, faz uma enorme diferença na vida prática. Assim, vou apresentar os temas centrais da ética, certo?

Ética e moral

Em português temos duas palavras que utilizamos muitas vezes como sinônimos quando queremos discutir questões éticas. Assim, os conceitos de ‌ética e moral acabam gerando alguns tipos de interpretações confusas. Sobre isso, é importante dizer que tanto ‌ética quanto moral significam, etimologicamente, a mesma coisa.

A palavra ética vem do grego, éthos, e significa algo como hábito ou costume. Essa palavra aparece na Ilíada, por exemplo, com o sentido de morada, ou seja, com uma noção de pertencimento que retoma a ideia de que construir e habitar se relacionam com a não-separação entre os homens, a natureza e os deuses. Nesse sentido, podemos afirmar que a ideia de habitação (e de ética, em geral) implica em criar valores. Já a palavra moral tem origem latina. Moris, contudo, significa o mesmo que ‌éthos: portanto, hábito ou costume.

Mas apesar de não existir uma diferenciação clara entre os termos do ponto de vista etimológico, hoje utilizamos a seguinte separação entre os conceitos:

Se você quiser acessar uma versão desse vídeo com questões, utilize esse link do Edpuzzle.

O ato moral

Agora, à parte da reflexão sobre os conceitos de ética e moral, agora extremamente necessário é refletirmos sobre as circunstâncias que envolvem o ato moral. Por exemplo, pessoas de culturas diferentes se comportam de maneiras diferentes. E por que isso acontece?

Apesar de sermos parte integrante da natureza, o que nos difere dos outros animais é, essencialmente, o fato de que agimos sobre a natureza transformando-a em cultura. E a partir desse momento deixamos de ser regidos apenas pelas circunstâncias da própria natureza. Para que a cultura funcione, criamos regras, normas de conduta e começamos a pensar em estratégias para que essas regras façam sentido para todas as pessoas. É justamente nesse sentido que falamos em pessoas morais ou imorais. Moral, por exemplo, é uma pessoa que se adequa à norma estabelecida. Veja bem, não se trata de concordar com a norma, mas sim de segui-la. Por outro lado, uma pessoa imoral é aquela que discorda da norma e age contra ela, manifestando essa divergência.

Essas diferenciações nos ajudam a compreender o fenômeno moral como parte da cultura em que vivemos, e não como uma segunda natureza humana, algo que nasceria conosco e fosse comum a todas pessoas. Na verdade, é bem fácil perceber que não é assim, pois se a moral fosse tão comum quanto respirar nossos problemas seriam bem menores.

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Dever e liberdade

Mas um ato moral só é um ato moral se a ação é livre, consciente e intencional. Se uma pessoa for coagida a fazer algo, mesmo que seja algo bom, fica difícil dizer que se trata de um ato moral, concorda?

Um dos filósofos que refletiu sobre a questão da liberdade foi o francês Jean-Paul Sartre. No contexto de sua teoria, o existencialismo, a liberdade é colocada como uma circunstância da qual não podemos fugir. Afinal, como afirma Sartre, “estamos condenados a ser livres”. Eu sei que essa frase parece meio estranha, justamente porque não estamos acostumados a associar a liberdade com algo ruim como uma condenação. Mas a ideia de Sartre (além do interessante jogo de palavras) é situar a liberdade como algo de que não podemos abrir mão. É nesse sentido que estamos condenados a ela; e é nisso sentido que, em muitas circunstâncias da vida, muitas pessoas prefeririam estar determinadas pelo destino ou pela vontade dos deuses. Afinal, ser livre implica, também, é termos que lidar com as consequências de nossos atos.

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A questão da verdade

Quando falamos em ética outro tema recorrente é a questão da verdade. Nós costumamos pensar a verdade como um caminho único, uma resposta absoluta para a coisas. O filósofo alemão Martin Heidegger escreveu que existiam duas concepções distintas de ética na antiguidade: aletheia (desvelamento) e orthotes (correção). A perspectiva que prevaleceu no Ocidente, de acordo com Heidegger, foi a noção de verdade como correção, o que implica em uma perspectiva de um caminho certo que se opõe ao erro. É assim, por exemplo, que muitas vezes as pessoas que defendem a ciência, ou a filosofia, ou a religião, acham que apenas a sua forma de ver e entender a realidade tem validade. E no campo da ética, como você pode imaginar, esse tipo de postura tem consequências que podem ser drásticas.

Pensando no caminho da aletheia, podemos dizer que se o conhecimento está em processo, a verdade também está. Por isso, a ética muda, se transforma, se adapta. No entanto, isso não impede a existência de diferentes concepções éticas ao longo da história. Sócrates, por exemplo, defendia que só não é virtuoso quem não conhece a virtude. Portanto, conhecer a verdade implica em seguir o caminho da verdade, ou seja, fazer o que é certo.

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O problema do livre-arbítrio

O livre-arbítrio é a capacidade para decidir, de arbitrar em liberdade. Os defensores do livre-arbítrio acreditam que, mesmo com dificuldades e impedimentos em vida, ainda somos nós que somos responsáveis por nossas ações.

Por isso, é importante não confundir ausência de liberdade com ausência de livre-arbítrio. Por exemplo, uma pessoa pode viver em um Estado em que não existe liberdade política. Mas isso implica que ela não pode decidir o que fazer?

Existem algumas teorias que procuram refletir sobre essas questões, e uma delas é o libertismo. O libertismo é uma teoria compatibilista, que defende que temos livre-arbítrio, ainda que alguns acontecimentos possam ser determinados. Para o libertismo é impossível imaginar uma situação em que não temos capacidade de decisão. Claro, a gente diz, às vezes, que ela estava fora de si, que estava incapaz de agir, ou de decidir por si mesma. Mas mesmo nisso, para o libertismo, há livre-arbítrio. Por exemplo, uma pessoa bebeu muito, pegou o carro e causou um acidente. Ela pode alegar que não estava consciente do que estava fazendo e não pode escolher? Não. Pode até ser que, sob o efeito da bebida ela tenha feito coisas que de outra forma não faria. Mas foi ela quem escolheu beber. Logo, existe livre-arbítrio mesmo nessa sequência de fatos e ocorrências.

Sartre, em um texto chamado O existencialismo é um humanismo ele afirma o seguinte:

“Que significará dizer-se que a existência precede a essência? Significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. Se o homem, tal como o concebe o existencialista, não é definível, é porque primeiramente nada é. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não há natureza humana, visto que não há Deus para a conceber. Não apenas é o homem o que ele se concebe que é, ele é também apenas o que quiser ser depois de lançado na existência. O homem não é mais que o que faz de si mesmo. Tal é o primeiro princípio do existencialismo.” (Jean-Paul Sartre)

A ideia de que a existência precede a essência significa que não estamos determinados por nada anterior ao momento em que passamos a existir. Não éramos nada. Logo, não tínhamos essência. Passamos a existir e, a partir desse momento, a nossa existência será constituída. O ser humano, na perspectiva de Sartre, portanto, é um ser social.

Importante pontuar que, na perspectiva de Sartre, a não existência de Deus não implica em uma inexistência da ética. Porque queremos viver bem, e porque precisamos viver bem (cada um consigo e todos em conjunto) é extremamente necessário refletir sobre a ética. Logo, diante da pergunta feita por Dostoievski em Os Irmãos Karamázov, ou seja, “Se deus não existisse, tudo seria permitido?”, a resposta de Sartre é negativa. Não podemos abdicar de decidir o que fazer. Não podemos abdicar de nossas decisões. Somos aquilo que escolhemos ser. E não podemos ser de outro jeito.

Se você quiser acessar uma versão desse vídeo com questões, utilize esse link do Edpuzzle.

Bem, por enquanto é só. Mas antes de sair, deixa eu perguntar uma coisa: você gosta de estudar por meio de aplicativos? Pois bem, se a resposta for sim, eu tenho uma boa notícia para você. O app do Kahoot tem um recurso de estudo com flashcards que é bem bacana. Por enquanto, ele só funciona no app para smartphones ou tablets, mas os desenvolvedores prometem trazer esse recurso para a versão web também. Então, se você quiser estudar mais sobre teoria do conhecimento, aqui seguem alguns questionários que eu fiz.

Questionários no Kahoot

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Referências

Marcos Ramon

Marcos Ramon

Professor no Instituto Federal de Brasília, pesquisando ensino, estética e cibercultura. Lattes | ORCID | Arquivo
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Marcos Ramon / Professor de Filosofia, pesquisando estética e cibercultura.

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