O medo que nos move

Estou aqui parado pensando em qualquer coisa que não signifique me esforçar. A minha vida é meio isso: um esforço de displicência, para esquecer de tudo, me desenganar de tudo (ou quase).

Já teve um tempo em que eu acreditei nas pessoas e imaginei que se eu realmente me esforçasse — mas digo realmente mesmo! — eu conseguiria alcançar as minhas metas. Mas é tudo um engano. Ninguém controla nada, ninguém pode ter certeza de coisa alguma. Por isso que eu acho que ter metas é um jeito simples de promover o autoengano.

E como eu preciso viver sem me preocupar com tudo, eu continuo arranjando motivos para acreditar que a vida faz sentido e que existe um propósito em cada ação e respiro.

Só de vez em quando, como hoje, uma manhã fria de Julho, é que eu ganho coragem pra me encarar no espelho dizendo tudo o que eu preciso ouvir. Mas coragem traz risco, perigo e coloca a vida numa corda bamba.

É o medo que nos preserva; é o medo que nos dá força para persistir.

Pintura de Joel Rea