Hoje, não ontem

Cada decisão minha reverbera um pouco do passado. E isso que eu insisto em chamar de “vida” acaba sendo uma colcha de retalhos de tudo o que eu sou, de tudo o que eu fui.

Deve existir quem consiga viver o presente e só o presente todo dia, mas eu não. Pra mim o passado é uma marca tão forte quanto o presente; e o que passou é tão vital, tão decisivo na minha forma de ver o que eu sou, que é simplesmente incompreensível o fato de eu quase nunca aprender nada comigo mesmo, com meus erros, medos e angústias.

É como se viver um dia novo fosse sempre dar um primeiro passo, mas com a sensação de que você está apenas continuando algo inacabado, algo que você não acredita que vai ou deve terminar.

Um pensamento que me ocorreu agora: o passado e o presente são simultâneos, faces iguais de uma moeda de mentira. Só o futuro não existe e nem existirá.

Ilustração de Sara Olmos

Marcos Ramon

Professor no Instituto Federal de Brasília, pesquisando ensino, estética e cibercultura. Lattes | ORCID | Arquivo

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